Se fosse verdade


- Eu... Eu ainda não sei o nome dela, mas ela é como daquelas mulheres que não se esquece. Daquelas mulheres que olham nos seus olhos no meio da multidão e por alguns segundos consegue deixar sua visão turva. O corpo adolescente e uma mente fantasiosa, ela engana com a língua aqueles que não vêem seu coração. Não se rende fácil e costuma observar o abismo da ponta. Ela atrai os inimigos e costuma sempre cutucá-los com suas palavras ardentes, sem se importar muito com o que pode ou não acontecer. É daquelas que derruba o copo no chão sem olhar ou evitar.
  Por fora, ela é exatamente o que precisa ser: alguém que devolva palavras piores, com seu escudo maior que a batalha, decepando a visão dos inimigos guiando-os para o que acreditam ser. A aparência de filmes escuros, a voz de um dragão, a impureza e indolência. Sem dó, sem pena, sem conseqüências, ela baila em calçadas levando seu corpo aos limites mais altos sem esperar que haja mãos para apará-la no ar. Coleciona mentiras e desamores, distribui desaforo e socos. Uma garrafa de cachaça... Uma dose a mais... E seus leões fazem a guarda de sua casa vermelha. Sai armada até os olhos para prevenir feridas que nem sabe se vão se formar.
  Seus pais já não se importam onde dorme o que come ou quais drogas já se viciaram nela. Pra falar a verdade nem sei quem se importa. Ela entrega seu coração para quem é tão leviano. Seus segredos para os que disseminam o mal e seus problemas em forma de conselhos.
  Mas eu a vejo. Sempre a vi. Vejo seus porquês e entendo seus atos. Já trilhei pelo caminho que seus pés andam, já bebi da água que ela bebe e sei como é manter o rosto pintado para alegrar e desagradar outrem. Só por isso, meu coração ainda palpita em vê-la correndo para braços cruzados, se dando para quem nada quer, andando com quem não caminha com ela.
  Deus? Pra ela é como um amigo que vira as costas. Amor? É o que a deixa fraca e quase que invertebrada. Ela ainda assim, protegida por uma fajuta tinta, ver esse mundo de guerras e batalhas como poesia, como música. Pra ela ainda há uma paixão infinita num copo de vidro. Há amor em sacos plásticos. Há verdade em palavras molhadas de chope. Meia-noite como em conto de fadas, o encanto termina e ao abrir os olhos num quarto dado por um favor, ela olha pro teto durante horas, enquanto o ventilador resseca seus lábios, ela pensa, eu sei que pensa... Quem poderá estender a mão para tirá-la dali?

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