Ball and Chain

Alguma coisa.
De novo.
Nas minhas palavras.
Estão me puxando.
Como uma bola.
Onde está a chave?
Onde está a porta?
Onde estão as minhas palavras?
Onde está a sua sombra?
Está afundando.
Está caindo.
Olhe lá.
                         Caindo.
                                    Caindo.


Tell me why.

Summertime



Você estará crescendo.
Ela diz. O problema é que acabei crescendo muito mais do que cabia em minha casa.
E onde estão as lágrimas que poderiam aliviar meu coração?
E eu nem pude ver, nem pude sentir o último adeus dos meus primeiros olhos verdes.

Pois então. O primeiro e único. Meu grande amor. Meu grande medo. Minha rocha firme e meu ponto fraco. Hoje eu não quero ser a Anna Roza, eu não quero ser Anne. Quero ser só a filha da puta  (de) que me tirou de casa. Só que continuar dentro.

Não queria estar crescendo, nem estar diminuindo. Só queria tudo ao seu tempo. Por que crescer no tempo errado? Era tudo para o tempo de verão. Era tudo para meu tempo de florescimento. Não agora.

Parte de mim, quer entrar nesse beco com a cabeça erguida, fumar o que for pra fumar, cheirar o branco perfume de muitas folhas, injetar toda aquela menina herói. Mas outra parte só quer sentir o quente das mãos de quem há muito tempo não me abraça.

NONONONONONONONONODONTYOUCRY!
Ela diz. Assim como eu, ela dizia isso pra ela mesmo. Assim como eu, isso ficou se repetindo há muito na sua cabeça. E por só um olho, não se sai tudo o que está preso em mim. São muitas feridas, de muitas guerras, de muitos lugares em que caí tentando usar aquelas broken wings que um pássaro negro me deu.

E de que me serve a chave, se não tenho o que abrir mais? E de que me serve os olhos cor de vinho se o álcool e nem a erva, e nem as águas surtem efeito?

Quebraram o coração de minha menina, do meu menino e o meu ainda se segura pouco à pouco. Acho que agora chegou a hora de deixar todo o vermelho de lado. Mesmo sabendo que com ele vai embora parte do que sou.

Quando nasci, eu não chorei de primeira. Nem no dia que morri. E desde quando tenho caído nesse limbo continuo da mesma forma. Minha armadura de lata reluzente tem me mantendo longe de inimigos, d'uma guerra que eu nunca quis entrar, de um lugar que eu nunca quis invadir.

Meu vermelho hoje se secou e hoje sim, as paredes me convidam para uma dança pintada com essa cor. Que ficará vermelha logo no ultimo passo. Eu sei e conheço a força que tenho nos punhos, e que o combustível de tudo isso não tem nome ainda. de forma que o cinza já tomou conta do lugar. Hoje nenhum quarto amarelo apagará o cinza que tenho dentro dos sapatos. Hoje nenhum vermelho salvará as cores neutras dentro da língua. Só hoje, o arco-íris perdeu para só um par de verde.

01/03/2010

Beauty And The Beast II





- Bela!
- O-Oi.
- Bela, não morra...
- S-Sim...
- E-Eu não vou m-morrer.
- Não?
- N-Não...
- Me diga então, de onde veio todo esse sangue?
- Vem d-de mim.
- É muito sangue, molhou meus pés!
- Eu S-sei
- Bela! Me explica isso. Diga-me, com todos os detalhes, como, quando e quem fez isso.
- E-Eu...
- Como?
- Costurando aos 17 anos, ela irá se ferir e adormecerá para sempre. Ao redor do castelo há de nascer uma grande roseira. Dar-se-á rosas colombianas de perfume sedutor, vermelhas como sangue, do tamanhho de mil homens, porém seus espinhos matarão, e crescerão assim que cortados. Para quebrar tal maldição, pede-se que um certo senhor lhe abra os olhos com um beijo.
- E agora?
- Espere...
- Hey, mr...



* * *



Bela cai então adormecida sobre seu colo e de longe ele pode ouvir a terra se sacudindo e rosas enormes saindo prontas de sua terra. Seu enorme jardim cinza agora é banhado de sangria, seu coração arrítmico foge com suas palavras. Ele fecha os olhos e já não está mais ali. Está em meio a um deserto muito familiar e só quer chegar para vê-la. Seus pés afundam na areia e o frio lhe congela os grandes cabelos escuros. Ele andou por muito tempo até que se viu em frente a seu castelo. Rosas enormes lhe indicaram a direção. Sabendo que não poderia lutar contra os espinhos, ele se achega de forma amigável, cantando e tocando para as rosas que lhe mostram a escada.
- Seu corpo ainda se arrepia com a minha voz. Ei, pequena criança, em algumas manhãs você estará crescendo e cantando. Sutilmente você me abraçará. Faremos castelos feitos de areia pra que eles sigam para o mar. Eu vou tirar a bala e A chave os seus pés e você voará com asas pequenas por entre as nuvens com zebras, borboletas e vaga-lumes, viveremos nosso conto de fadas,  na infinita estrada. Meu amor, minha flor, minha menina, este é o fim de todas as elaborações de planos, tudo correrá com o vento que chama por Maria.l está tudo acontecendo. Me dê um beijo meu amor, hoje eu tenho 100 anos, e o meu coração bate como um pandeiro, num samba dobrado.



* * *



Ele a beija... E sente seus lábios quentes. Ela se acendeu novamente como fogo...


Ela se chamava: ...





Dentro do seu quarto está ele, escrevendo sobre Café, Impala e Rock’n’roll.

- Como de costume, eu bebi mais do que eu deveria. Pra falar a verdade, não sei se esse carro consome mais litros de álcool do que eu. Diga-se de passagem que ainda gosto muito desse lugar...
- Mais uma dose?
- Não. Me dê um café, quero só conversar.
- Sim, prossiga.
- Há algum tempo ganhei esse carro, e posso dizer que dentro dele você não percebe o tempo se arrastando. Ela se foi, levando meu casaco, mas me deixou com ele para que eu a encontrasse – pelo menos é assim que eu penso. Mas ontem eu, como já falei, bebi mais que a conta. Acho até que a vi, neste mesmo lugar.
- Quem é ela? Sua amiga?
- Ela é o segredo. É tudo. Engraçado que ela estava diferente... Posso até suspeitar de que ela não era. Era como se... Se... Ela tivesse reencarnado no corpo dele. Não eram mais os mesmos olhos, mas era o mesmo olhar. Sobrancelhas curvadas, a boca vermelha e um cigarro na ponta dos dedos. Eu pude sentir, da mesma forma, um arrepio na espinha. Mas o impressionante era o olhar. O olhar. Olhos tristes e frios. Ele os flexionava quando a fumaça passava por ele. Na blusa, o convite da Santa Maria. Nos pés, um rastro da cor do cabelo dela. Um andar, estranho de quem já bebeu demais. Calado e sério, saiu do bar. Eu o olhava pela brecha da janela, pensando:

“Quando o copo esvaziar, eu vou lá.”

Meu copo esvaziou umas três ou sete vezes, mas eu sempre tinha medo. Até que, na minha distração, ele veio me pedir um cigarro: Blue. O mesmo cigarro que ela gostava. Acendeu-o com um isqueiro prateado e olhando para mim. É o que me lembro. Olhos como a relva. Nos olhando, saímos do bar, sem nenhuma palavra. Entramos no carro e fizemos o que melhor sabíamos fazer: fugir. Naquele momento, o silêncio era a melhor companhia e o cigarro parecia não apagar. Andamos quilômetros e mais quilômetros até que atravessamos a linha do bem e do mal. A gasolina acabou, mas ainda tínhamos bebida e cigarros, logo, a viagem não terminaria ali.
Ele me repousou sobre seu colo e me contou toda a sua vida. Um soldado, recém chegado da guerra contra si mesmo. Pediu-me então um corpo quente para aquecê-lo. Foi como se ela me tocasse, mais intenso, mais forte, mais quente. Eu queria aquilo pra mim, em cima dele, já não precisava fugir. Estava estável. Até hoje de manhã, quando acordou e o mesmo silêncio que d’antes me agradava me sufocava ali. Agora, sem gasolina, não posso procurar nem ela, nem ele. Só fiquei novamente, mas agora sei:

“Ruby deve ser nome de um demônio”.


HEY!
- O banner está passando por atualização, em breve um novo.
- Os links dos nossos orkuts serão divulgados na página Valentinas 



Férias


Férias significa basicamente dormir. Mas não para nossas Valentinas. Logo, venho por meio desse antecipar as justificativas das atualizações não-contínuas. Bom, eu estou vivendo a mil por hora mas postarei sempre que for possível. Gessyca está na faculdade, e diga-se de passagem, que suga a sua vida. Então postará quando puder, porque ela tem que assistir, analisar, transformar em texto, escrever, corrigir e postar aqui. É um trabalhão. A Laiane... bom a Laiane segue o vento, vamos esperar pra ver onde vai dar.
No mais, é isso. Quero agradecer o apoio do site Malvadas.org que tem nos divulgado, à todos os que nos visitam, comentam, leem, falam mal, falam bem, estrangeiros e conterrâneos... etc.

MUITO OBRIGADA VISITANTES!

Beijos sinceros de Anne.

Haze



"Névoa púrpura no meu cérebro me mostrou coisas que estavam na minha cara todos os dias. Me dizia ao pé do ouvido que havia o que temer e o que encarar. Havia na minha sala um cigano que eu temia, um detetive que eu encarava e um nobre senhor que a trouxe para nós. Ah... Depois dela as coisas não são as mesmas, tudo roda em outra direção, tudo pende para o lado mais leve.

O cigano me olhava e sorria pra mim, sabendo que eu estava em outra dimensão. Ele já tinha andado por muitos lugares recolhendo em cada mão seus desejos mais imundos, mas agora tudo que ele queria era casa. O detetive me olhava tentando entender o que eu sentia. Ele sempre teve casa, sempre teve seu escritório onde observava calculadamente todos os passos de todos os que o rodeava, e tudo o que ele queria agora era andar por muitos lugares. Tudo é meio engraçado mas não sei o motivo, tudo estava se movendo tão rapidamente enquanto a música ia numa frequência tão lenta, tão rápido, tão lento, tão rápido, tão lento... Licença, enquanto eu beijo o céu!

Quando percebi, a névoa púrpura estava por todos os lados e querendo ou não, os senhores Detetive e Cigano estavam na mesma dimensão. Eles usavam uma linda moça de pele branquinha e lábios vermelhos como cereja, amora e morango. Eu os olhava e cada vez mais ficava confusa. Não sei se estou me afastando ou me aproximando, mas eu me sentia em movimento. E até gostava da música que eles achavam que eu deveria escutar. Daí até comecei a achar que Legião não é ruim, ao mesmo tempo eu me perguntava: DEUS! Eu estou feliz ou caí em miséria? O que eles tinham que me fazia ser tão ambígua assim? Tão voluntariosa? Tão simples? O que quer que seja, eu já não conseguia parar de olhar para um deles. As perguntas foram me aparecendo à cabeça e era como se eu pudesse ler os olhos deles. Me dizia:


"Aquela garota pôs um feitiço em mim."

Então eu só conseguia rir, caros senhores, caros ouvintes dessa rádio. Eu ria e minha barriga doía de tanto rir. Meu coração estava arritimico e minhas bochechas coradas de tanta gargalhada. "Me ajude... me ajude... oh" era tudo o que eu pensava. Eu não sei, realmente não sei o que me deu naquela hora, mas era a forma mais simples que eu achei de disfarçar tanto interesse por aquele sr. Como se eu tivesse adormecido, como se ali o tempo tivesse passado tão rápido, eu já não conseguia deixar meus olhos tão abertos. Eles fechavam antes mesmo de eu conseguir abrí-los.

A névoa púrpura estava toda em meus olhos desenhando novos personagens para uma história que jamais será ouvida. O tempo então sentou do meu lado e me falou sobre um futuro. Dizendo que em uma dessas manhãs tudo estaria no seu lugar, dizendo que estava cansado de correr. Eu não sei se é noite ou se é dia, mas eu estava certa que a Primavera estava chegando, eu já podia sentir o cheiro de rosas se aproximando da Red House.

Então o tempo me falou:

"Você me confundiu, confundindo minha mente com suas palavras. Até tentei passar a perna em você, mas olha só onde você está. Você é uma garota crescida agora A. Você é uma..."

Depois vi que tudo estava vazio. Um silêncio preenchia o espaço do vazio. Só isso. E eu já não entendia, se é amanhã ou somente o fim do tempo.

Who knows?"

Are you experienced?

Já experimentou o gosto de ter mil coisas dentro de você e não conseguir expandir?
Já experimentou o gosto da verdade e não poder falar?

É como ter um orgasmo toda vez que a memória quer te lembrar.

Can you help me?

Respeitável público!




O circo está na cidade, e a cidade toda parou pra ouvir o dono do picadeiro gritar os nomes das atrações. Havia muita gente ao redor da lona amarela-roxa que cobria uma alegria escondida atrás de uma maquiagem para espantar a tristeza. As crianças tumultuavam a entrada e a saída do circo. Sortudo era o que conseguia entrar naquele espaço e era quase um deus o que conseguia um lugar para se sentar.
As luzes estavam acesas e os vendedores gritavam ardorosamente os preços de suas almas. Pelo ambiente se encontrava todos os tipos de pessoas: Crianças que comiam de tudo e de tudo tinham, sem saber de nada. Crianças que já tinham vivido mil anos, sem comer nada por dia. Sabendo disso, entrava então o Domador, o Dono do Picadeiro à anunciar o prelúdio de uma noite que seria lembrada por todos e jamais comentada. No chão de terra batido, uma bota com estrelas faziam a poeira subir enquanto a boca com dentes que rangiam com pedaços de carne, cheiro de vinho e cor de maracujá se aproximava ao microfone:

"Reespeitável público! Boa noite. Espero que vocês estejam preparados para o melhor espetáculo da vida de vocês! Com vocês, Os Lutadores!"

De repente as luzes se apagam e um feixe de luz branca corta ao meio a platéia, de cima da aste que segurava a lona, desce um homem com cento e noventa e três centimetros. A força em pessoa. Com braços grandes e fortes. Negra pele e lábios grossos. Uma cicatriz no rosto e na mão uma garrafa de cachaça. O foco era todo pra ele. A platéia que ainda não tinha visto ele fazer nada, além de estar em cima de um poste enorme, exibindo para todos o seu físico atlético vendivel. Músculos cobriam o único músculo que ele ainda não tinha preparado para aquela noite. Seguro de sí, entendia que quando se exercitava, estava ficando invencível. Tolo homem de aparencia tão primitiva. Logo, num passe de mágica, pode-se ver entre grandes leques negros-verdes-vermelhos, uma figura ainda não compreendida. Tão frágil, como uma gueixa indefesa, de olhos redondos e grandes, de uma cor que não se sabe qual é. Com ela, vinha um silêncio arrebatador. Derrubando todas as máscaras naquela noite, ela como um passaro em pleno voo, suavemente, repousou sobre aquele nobre senhor de músculos enormes, fazendo-o trair seu gosto por si mesmo. A platéia pára para vê-la em sua dança que é tão atraente e tão singela. Movimentos que se desenrolam lentamente. Ela o tem nas mãos. Ele começa então a seguí-la, com olhos fixos, e pode-se ouvir o eco de um suspiro vindo do fundo da platéia que ver o lutador, desdobrando-se por uma gueixa candanga, sem sutaques. Ela o olha com um olhar frio por entre uma máscara transparente, ele a olha com um desejo. Uma malícia que as raposas conhecem. A forma em que ele se torna um predador olhando a garota de leques escuros, babando como se estivesse com hidrofilia, como se quisesse devorá-la. Todos veem que ela tira a paz dele. O silêncio parece gritar naquele lugar com um groove maldito de cães que uivam do lado de fora da lona. Dando voltas num espiral infinito, a baba espessa que cai da boca daquele lutador, tem cheiro de alcool. O primeiro número do Circo é o último do lutador que perdeu a noçao do que fazer diante tal beleza. Hipnotizado por ela, só a via, só a seguia. Pra ele, o foco de luz era ela. Seus músculos começam a secar. Ele nota que já está ofegante, então parte para o ataque. Do palco, você pode ver algumas mães tampando os olhos de seus filhos, pois não havia mais nenhuma luta ali, só uma presa e um predador. Ele a toma nos braços, e alguns senhores riem daquela situação, enquanto do rosto apatico e palido dela escorrem longas lágrimas, o lutador deflora tal flor que estava desabrochando naquela estação, e num golpe de sorte, ela atinge tal músculo. Entrando por entre suas costelas, sentindo pulsar em seus dedos as veias e artérias de um homem que virou uma fera diante os olhos de todos. Ela se levanta e o refletor ofusca seus olhos. Enxugando as lágrimas com a manga de sua blusa com cheiro de cigarro e álcool, ela se levanta, deixando estendido naquele lugar um corpo, que secava cada vez mais. Da boca para o resto do corpo, com seu coração pulsando fora de seu corpo. As batidas dele ecoavam por entre a platéia, que fria, assistia fervorosamente o número. Pequenos homenzinhos levam o corpo do lutador e o penduram em uma aste do Circo, volta então o Dono do Arraial:

"Senhoras e Senhores, o Mágico"

E no meio de uma névoa cinza, surge o mágico com uma cartola colorida e lábios finos e vermelhos. Sua pele era bem branca, seus olhos eram negros e ele tinha um longo cabelo negro que escondia por dentro de sua cartola. Cartas de baralho, pássaros negros, gotas azuis, trazia consigo também um violão. Renascia em todos os números, e alegrava a todos por onde passavam. Tinha sempre coisas novas para fazer, tinha sempre coisas interessantes para mostrar. Algo novo na manga. Tocava algumas músicas que ganhavam formas, e isso prendia a platéia. Ele não dizia muita coisa, mas trazia muita coisa na mala. Não precisava dizer, estava subentendido. Ele então começa a andar em circulos, e suas pernas parecem maior que seu corpo agora, ele vê atrás de longos cabelos, uma garota, ajoelhada no chão, à dormir. Ele a pega no colo e sussura no seu ouvido, algo que até o Demônio gostaria de saber do que se tratava. Ela acorda e encantada por ele, começam uma valsa com meio tom acima, ninguém sabe de onde veio a música, e nem como, mas uma chuva voraz abriu o céu daquele Circo. Enchendo de sorrisos vermelhos aquela garota e de esperança o velho mágico, que continuam girando entorno de seus corpos, valsando, valsando, valsando, enquanto podia se ouvir nascer novamente para ela JJ e JH, que deram um toque especial no ambiente. Ela só o via, molhado por uma chuva criada de lágrimas de um número anterior, condensadas em nuvens que desciam forma de uma música que não se sabe a origem. Eles dançavam sobre castelos de areia, sobre as notas de um blues rasgado e sofrido. Até que em um passo, o mágico se põe a dançar com uma outra senhorita que desceu da platéia para o ver de perto. Parecia que eles se conheciam. Ela era tão bonita em relação a outra garota que era tão blue. Ela era vívida, quente e interessante. A platéia se mantinha calada, e ao mesmo tempo, podiam se ouvir rumores por todo o lugar. Os solos de guitarra que faziam a valsa, encheram a cabeça da pobre sem par. Transbordaram e quando já não aguentou mais, um grito saiu de sua garganta como um lamúrio, como o choro de mil virgens, como um pedido de socorro de milhares de soterrados. Era seu coração que batia com tristeza. Ela viu então, a chuva parar, e do chão molhado subir novamente a água que também levara o mágico embora. A plateia começa a vaiar a pobre garota, que nenhum número ainda tinha apresentado.
Mas entrando pela contramão, em um cavalo amarelo, vem ele com um cigarro na mão, fumando com uma boca não muito bem desenhada. Cavalgou por entre os bancos, e as moças da platéia se derretiam por ele. Ele correu até ela, e a levou para passear. Deixou a luz nela, para lhe ofuscar os olhos. Um cavaleiro, um domador de feras. Não via mais ela, que seu corpo definhava, sua pele ressequia, sua alma se esvaia do corpo, sua voz não saia mais. Olhando para aqueles olhos amarelos, ela chorava e pedia socorro, num palco molhado, começava a crescer uma grande erva, que secava a vida que antes havia ali. Seu corpo estava enfraquecido, presa a ele com grilhões, ela ver refletido nas púpilias do domador de si mesmo, um palhaço a se maquiar. Um sorriso na face pintou, e com lápis preto marcou seus olhos. Descendo do cavalo, arrastando seus grilhoes, ela se aproxima dele, com um ar desesperado, a platéia em um coro só faz o suspiro de um amor que acaba de brotar ali. O sorriso do palhaço se solidifica em seus lábios, o lápis preto então começa automaticamente a descer, tornando um simples palhaço no que chamamos de Pierrot. Um romance cantado por Cazuza naquele lugar, que acabou com o Domador tomando a garota em seus braços, e a arremeçando na jaula de grandes feras que rasgaram seu vestido, manchando-o da cor de seus cabelos: vermelho. Ela novamente, se refez de cinzas, de sangue e lágrimas colocando novamente a cantar, julgando-se amada por um dos que passaram pelo picadeira. O sangue escorria por todo o palco, umedecendo a terra seca de um picadeiro nunca antes visto. Na platéia, os engravatados religiosos fechavam os olhos e debruçavam sobre seu colo a língua venenosa. Ela sendo iluminada no meio de tanta dor. O foco.
Entra então em cena alguns poetas boêmios, jogadores de cartas, músicos, artistas descidos de um disco voador. Cantando ao seu redor, estavam todos dispostos à fazê-la sorrir. Com alguns copos de cana, poucos olhares viram nascer de seus cabelos um jardim lisérgico que escorria por toda a extensão do picadeiro. A terra que outrora seca, molhada por seu sangue, começa a dar vida à rosas vermelhas, sem espinhos, de perfume agradabilíssimo.
 Cresce as rosas em direção ao Sol que se esconde embaixo da lona.
Seu vestido foi remendado por flores, logo, ela embala mais forte na música, criando ao seu redor fogo, música e fumaça. Chama então atenção de menestréis, de trovadores, cantores, boêmios e todos os que estavam ali olhando ela girar e girar. Um novo nome foi colocado em seu seio, seu coração foi trazido em uma caixinha de bronze. No seu pescoço ela carregava um emblema que chamou a atenção do que se mantinha na escuridão do espetáculo. Quieto, acompanhado apenas de uma garota. Uma linda garota, de curvas sinuosas chamou a atenção dela. E chamando-a pelos número, pelos códigos, ela se aproximou e a verdade se fez tão sólida quanto o sonho abstrato de uma vida longe daquele lamúrio. Ele então, deixou de lado a pequena L. e foi de encontro a doce menina de lábios vermelhos e olhos pintados com carvão. Ele cravou em suas pernas asas, lhe tirou a chave, a bala, a sede. Tirou ela daquele picadeiro, a levou para um lugar que produz algodão. Num infinito verão, numa infinita dança, embaixo de estrelas. Suas dores ele sanou com sua voz. Com traços finos. Com a verdade.
Caiu então a lona sobre os que lá estavam e de longe podia-se ouvir as gargalhadas envenenadas por um liquido quente. Ela já não estava só. Agora tinha começado a melhor estação do ano. O Sol já está saindo, é tempo de correr. Está na época, esta é a época. É a época.

A Primeira Coisa

Imagem: LizzieRz

Há dois mundos num espaço menor que 10 km. Há um mundo que é cheio de luzes amarelas. Por todos os lados elas são penduradas e se mantêm acesas todos os dias. É muito simples: às 6h elas acedem, às 6h elas apagam. Durante o tempo que estão apagadas, elas se recarregam para serem acesas novamente. Se acedem só, a partir de um sensor que percebe a baixa luminosidade, ativando-as fazendo elas acenderem. As pessoas, de certa forma, se sentem bem mais seguras embaixo da luz. Elas dizem: "Não vamos por aí que não tem luz" ou "Já está muito escuro pra sair".

Parece que as luzes nunca queimam. Sempre acesas, sempre às 6h, sempre iguais nos seus lugares "protegendo" seus fãs. Esse é um mundo. Um mundo todo iluminado. Por ser assim, as pessoas que acostumam com a luz, tendem a ficar apenas onde tem luz. Elas seguem a luz e por ela são guiadas. De alguma forma se sentem mais seguras seguindo um luz que ofusca até mesmo a luz de estrelas. Nesse mundo o álcool foi colocado como responsável por colocar sorrisos nos rostos. Não importa muito o que você pensa ou o que fala. Tudo é medido por quantas cédulas tem sua carteira.


Há outro mundo. Um mundo diferente. Nesse mundo, as luzes não sobem no palco. Nesse mundo podem-se ver milhares de luzes amarelas, iluminando o mundo outrora citado. Esse é um mundo a parte. Geralmente, não é lembrado pela maioria das pessoas. Lá é frio, o que obriga a ficar bem junto. Lá é vazio e tem eco, o que obriga a sussurrar. O encarregado de colocar sorrisos nos rostos é o tesão. Ele faz isso da melhor maneira possível. Lá é alto, mostrando o quão pequeno são as luzes de outro mundo. Quão insignificante é o fato de ter ou não ter uma roupa da moda. Lá é escuro, o que chama as estrelas para conversar, mas para que não se perca, a Lua mostra o que há sob os pés. O Sol sempre se debruça sobre esse mundo primeiro. De longe você já pode sentir seu calor. O que conta lá é o que tem pra contar, não muito que você veste (e se você veste algo). É tudo muito simples. Nesse mundo só há uma estação. Pintada com batom vermelho, ela dura o ano inteiro. Profundamente superficiais são as palavras. É lei ser incerto e insensato. Há música de grandes deuses e a dança é usada para se aquecer. Esse mundo é alto. Eles já estiveram lá. Dançando sem luzes, vendo apenas com os feixes da luz da Lua que decepava as nuvens.


Há dois mundos. Ela está no meio dele, dançando no tempo. O que é a primeira coisa?

Espere pela segunda coisa.