hoje



hoje a tristeza não tem música. não tem cor, nem letra maiuscula. hoje não tem título ou imagem bonita. hoje a tristeza veio se mostrar intimamente, friamente. veio sorrateramente pelas frestas de um sorriso, veio sutilmente beijar meu rosto. veio vestida de judas para me trair. feita como pedro para me negar. hoje a vontade de colo gritou muito mais alto que o barulho de uma velha armadura. a fotografia perdeu o sabor.
hoje eu já não posso ser só sua. o que você não me deu está na mão de outros. o que você me nega me oferecem diariamente. não posso ser completa ao teu lado se você me dá gotas do que é. já não rolo tanto na cama à sua procura. já joguei fora as caixas de "nosso amor" que só foi meu. hoje memórias suas me bateram à porta, entraram, sentaram-se e papearam comigo me lembrando noites vazias e frias.
já não sou só sua, pois você um dia quis assim. a tristeza de hoje me levou os planos e rascunhos de uma vida com você. é triste ver que não foi salvo o que poderia nos salvar. um dia fui esse hoje pra você, eu sei. pra você eu não era e não era preciso eu saber.
hoje só tenho memórias daquele carnaval que então me desarmava você ia embora. hoje a tristeza não tem música. não tem foto. não tem cor. hoje a tristeza levou todo meu café, levou você de mim. eu sinto falta, mas gosto dessa falta que me faz.
hoje eu preciso de um colo que nunca tive. não preciso de momentos de tesão ou de felicidades. hoje eu quero sentir essa tristeza no mais intimo que ela possa me tocar. sentir toda, completa, certa, pra acabar de vez. hoje eu preciso ser conquistada. tratada com cortejos, elogios, falsos-elogios. quero sorriso e admiração. hoje eu quero o não.

o outro

E se ele te chamar pra tomar uma cerveja?
E se o beijo dele te fizer ver mais estrelas que o meu?
E se as mãos dele forem maior que as minhas?
E se ele te disser palavras mais bonitas que as minhas?
Mas e se ele tirar o violão da sacola e tocar uma música pra você?
E se ele tiver um sorriso mais branco que o meu?
Minha preta, e como fico se ele tem mais elogios?
Se ele souber como tratar uma mulher, como fico?
E se ele te abraçar na hora certa? Que culpa tenho eu pela a estrada?
E se o corpo dele for mais quente?
E se ele escrever sobre você melhor que eu?
Se ele dançar melhor que eu, minha flor, se ele dançar melhor que eu?
E se você, por algum elogio, dança ou beijo, se encantar e esquecer de nosso amor... Que faço eu das músicas e dos planos que tenho?
Onde coloco nossas caixas de papelão e nossos passarinhos?
Preta, que faço sem teu corpo, teu beijo, teu amor?

Queridas meninas

Ela estava linda naquela ocasião. Eu passei por ela e pela pressa e ansiedade eu não reparei no que havia passado por mim. Sentei-me alguns lugares depois do que se tornaria meu vício. Comecei então a reparar em quem estava na minha frente e seus adornos me paralisaram a visão. A voz saia tropeçando entre palavras que não podia dizer. Minha mente tão racional e negando meu signo me dizia: "Não se prenda a isso. Não se prenda a isso. Atenção!". Mas meu corpo queria algo diferente, queria tão somente tocar na pele branca de seu corpo, comê-la viva ali.
Resolvi me aproximar, atrás dela me sentei e para outra dimensão eu fui. Meu corpo inteiro se desfaleceu e se não fosse à campainha, o êxtase de me aproximar dela não teria acabado. Um furo na camiseta azul, costas desenhadas para que as deusas tivessem inveja. Quase tombo sob ela, numa vontade repentina de tê-la a qualquer custo.
Seu nome me soa familiar e todos os seus traços pintaram em meus olhos uma tela digna de Sylvia Ji. Eu parecia um brinquedo em sua mão, uma adolescente apaixonada. Ela me olhava e eu sorria compulsivamente. Solta, desinibida, parecia ter sido banhada em naturalidade. Prendia-me com maestria no jeito em que sorria, falava e simplesmente ficava quieta.
Um caderno, alguns scraps, desenhos diversos. Um texto a três mãos. Uma letra específica. Ela me encantou completamente. A doçura em forma de uma agressividade natural e imperceptível.
Hoje ela me visita em sonhos, em desejos e poluções. Volta à memória quando entro na face, quando vejo a tatuagem, quando me lembro de gatos e cadernos. 
Não! Não pense que isso é o que é tudo, de fato. Não! O que consegui colocar aqui não é um terço do que realmente passa dentro de minha cabeça. Não dá, não dá. Não dá... Eu só quero só desejo, só venero...

"Nunca foi tão claro como agora. Nunca foi tão real como hoje. Nunca senti tão profundamente!"



Não me deixe só

Por que você lê nos meus olhos o que as palavras não dizem, não transcrevem, não saem. Minha tristeza chega em você antes e você faz questão de curá-la antes que ela me derrube. Entende meus stress e me acalma me dando porções de tua bebida, de tua música. Leva letras para que eu encontre, me deixando brincar no teu favorito passatempo para me manter no universo que é só teu, antes que eu me arme de novo. Com o teu violão, encanta meus medos para que dancem longe de mim. Me deixa tropeçar nas palavras, cair entre virgulas e faz do nosso mundo uma oração entre parênteses. Me faz encarar a verdade e me perde entre tic-tacs atrasados. Não se enciuma quando me ver com outrem. Sabe que sua fui desde o momento que me deu nome. E na amizade que não dói, no amor que não finda, me faz cativa de teus folhetins e me cria novos mundos todas as vezes que o meu é consumido pelo fogo. Não me deixe só, meu amor.