Apague a luz


  As músicas estavam tocando alto. Havia tanta lama no chão quanto na Woodstock de mil novecentos e sessenta e nove. As músicas falavam sobre juventude, liberdade e amor. Eu era jovem e estávamos brincando em meio a multidão. As luzes entravam em nossos olhos partindo nossa pupila ao meio. A música era cortante e as risadas se tornavam espontâneas.
  Parecia já antes preparado, quando eu seguia o próprio Diabo em busca da minha própria morte. Eu via uns dançando, outros se embriagando. Eu estava sóbria mas me sentia entorpecida. O mundo girava tão lentamente. O amor nos fazia graças. Era a mais solene canção tocada para aquele punhado de gente.
  Mas naquela noite, o mal foi disseminado naquele descampado. A covardia deu lugar a todas boas daquele lugar, deixando aquele ar pesado demais para que eu pudesse respirar. Meu corpo saiu de minh'alma e o meu espírito estava longe. Deus olhava para mim como um dia olhou para seu filho Jesus na cruz.
  Eu me dilacerava em solidão, entre milhares de pessoas que nos olhavam na valsa da morte. Suas mãos encravadas em minha cintura fazia meu coração ter sopros como a pequena Hurricane. As palavras gritadas eram como pequenos tiros de uma espingarda calibre doze em meu ventre. Olhos de rapariga me observavam de longe enquanto os eu tentava me esconder quando aquelas mãos feriam as minhas. O álcool era o combustível da noite infernal.
  Quando a música acabou, apagaram as luzes. O que parecia o fim, foi apenas mais uma elaboração de planos. Como era de costume se dizer.

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