As rosas não falam


  Ela foi encontrada sentada numa praça, debaixo de um pé de planta. É estranho como aquela árvore estava enorme. Enorme. Ele a viu ali sentada e como outrora, sentiu o que ela sentiu. Ela então o olhou nos olhos e ele desconcertado se aproximou. Como de costume, ele falou algumas mentiras depois de beijar-lhe a mão. Ele entendia completamente o que ela falava e sabia das mentiras que ela contava. Mas tudo bem, tudo estava bem. Ele estava com a roupa mais bonita. Ela estava com a roupa de sempre. Era carnaval e todos estavam preparados para aquela noite. Ele então tirou do seu bolso uma máscara cor de vinho e entregou na sua mão, com um sorriso mascarado disse que era pra combinar com seus olhos.
  Ele saiu com uma preocupação arraigada em seu peito, ela ficou com a solidão que estava acostumada a lidar. Do céu, chovia confetes e pintavam o chão de concreto. Ele no meio de todos, olhava para a pequena que estava sentada embaixo da árvore que tinha estranhamente crescido. O vestido branco que era característico dela, estava molhado e com uma leve transparência. Não se sabia se o que molhou foi o orvalho da árvore ou outra coisa. Mas de certo estava encharcado.
  Como de costume, ele a tirou pra dançar. Vê-la tão quieta, era de certa forma assustador. E como de costume, desceu do céu uma chuva tão fina e tão cheia ainda... algo sobrenatural. Eles valsavam a mesma música a cerca de um ano, sabendo que mortos estavam por isso. Todos paravam para os olhar dançando fora do ritmo. Como de costume ela deitou sua cabeça em um de seus ombros, e ele encaracolava seus cachos rúbios. Como sempre, ela estava embriagada e ele ainda era um cavalheiro. Ele notou que seu coração estava de certa forma, arritmado. Isso em geral acontecia. Chegou perto do pescoço, a abraçou forte, e dessa forma foi dito sem ninguém ouvir "Just Breath". A apertando contra si, ele entendeu o que estava acontecendo e ela também. Ele perguntou tranquilamente:

"Minha menina, o que há com você? Que marcas são essas em teu corpo? O que fizeram aos teus olhos? Onde está tua companhia e pra onde teus pés caminham? O que houve com tua voz, meu rouxinol? Onde está o teu vermelho? Me fale sobre teu vestido branco, como ele ficou assim. Por que não me disse o que estava acontecendo com você?"

  Como de costume, ela sorriu para ele e disse que estava bem. Naquele momento, tanto aquela donzela sem alguma reputação ou valor, quanto aquele boêmio de boa família, entenderam que era mais que um adeus. Era a canção de um funeral. Eles então deixaram morrer um no colo do outro.

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