Summertime



Você estará crescendo.
Ela diz. O problema é que acabei crescendo muito mais do que cabia em minha casa.
E onde estão as lágrimas que poderiam aliviar meu coração?
E eu nem pude ver, nem pude sentir o último adeus dos meus primeiros olhos verdes.

Pois então. O primeiro e único. Meu grande amor. Meu grande medo. Minha rocha firme e meu ponto fraco. Hoje eu não quero ser a Anna Roza, eu não quero ser Anne. Quero ser só a filha da puta  (de) que me tirou de casa. Só que continuar dentro.

Não queria estar crescendo, nem estar diminuindo. Só queria tudo ao seu tempo. Por que crescer no tempo errado? Era tudo para o tempo de verão. Era tudo para meu tempo de florescimento. Não agora.

Parte de mim, quer entrar nesse beco com a cabeça erguida, fumar o que for pra fumar, cheirar o branco perfume de muitas folhas, injetar toda aquela menina herói. Mas outra parte só quer sentir o quente das mãos de quem há muito tempo não me abraça.

NONONONONONONONONODONTYOUCRY!
Ela diz. Assim como eu, ela dizia isso pra ela mesmo. Assim como eu, isso ficou se repetindo há muito na sua cabeça. E por só um olho, não se sai tudo o que está preso em mim. São muitas feridas, de muitas guerras, de muitos lugares em que caí tentando usar aquelas broken wings que um pássaro negro me deu.

E de que me serve a chave, se não tenho o que abrir mais? E de que me serve os olhos cor de vinho se o álcool e nem a erva, e nem as águas surtem efeito?

Quebraram o coração de minha menina, do meu menino e o meu ainda se segura pouco à pouco. Acho que agora chegou a hora de deixar todo o vermelho de lado. Mesmo sabendo que com ele vai embora parte do que sou.

Quando nasci, eu não chorei de primeira. Nem no dia que morri. E desde quando tenho caído nesse limbo continuo da mesma forma. Minha armadura de lata reluzente tem me mantendo longe de inimigos, d'uma guerra que eu nunca quis entrar, de um lugar que eu nunca quis invadir.

Meu vermelho hoje se secou e hoje sim, as paredes me convidam para uma dança pintada com essa cor. Que ficará vermelha logo no ultimo passo. Eu sei e conheço a força que tenho nos punhos, e que o combustível de tudo isso não tem nome ainda. de forma que o cinza já tomou conta do lugar. Hoje nenhum quarto amarelo apagará o cinza que tenho dentro dos sapatos. Hoje nenhum vermelho salvará as cores neutras dentro da língua. Só hoje, o arco-íris perdeu para só um par de verde.

01/03/2010

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