Ela se chamava: ...





Dentro do seu quarto está ele, escrevendo sobre Café, Impala e Rock’n’roll.

- Como de costume, eu bebi mais do que eu deveria. Pra falar a verdade, não sei se esse carro consome mais litros de álcool do que eu. Diga-se de passagem que ainda gosto muito desse lugar...
- Mais uma dose?
- Não. Me dê um café, quero só conversar.
- Sim, prossiga.
- Há algum tempo ganhei esse carro, e posso dizer que dentro dele você não percebe o tempo se arrastando. Ela se foi, levando meu casaco, mas me deixou com ele para que eu a encontrasse – pelo menos é assim que eu penso. Mas ontem eu, como já falei, bebi mais que a conta. Acho até que a vi, neste mesmo lugar.
- Quem é ela? Sua amiga?
- Ela é o segredo. É tudo. Engraçado que ela estava diferente... Posso até suspeitar de que ela não era. Era como se... Se... Ela tivesse reencarnado no corpo dele. Não eram mais os mesmos olhos, mas era o mesmo olhar. Sobrancelhas curvadas, a boca vermelha e um cigarro na ponta dos dedos. Eu pude sentir, da mesma forma, um arrepio na espinha. Mas o impressionante era o olhar. O olhar. Olhos tristes e frios. Ele os flexionava quando a fumaça passava por ele. Na blusa, o convite da Santa Maria. Nos pés, um rastro da cor do cabelo dela. Um andar, estranho de quem já bebeu demais. Calado e sério, saiu do bar. Eu o olhava pela brecha da janela, pensando:

“Quando o copo esvaziar, eu vou lá.”

Meu copo esvaziou umas três ou sete vezes, mas eu sempre tinha medo. Até que, na minha distração, ele veio me pedir um cigarro: Blue. O mesmo cigarro que ela gostava. Acendeu-o com um isqueiro prateado e olhando para mim. É o que me lembro. Olhos como a relva. Nos olhando, saímos do bar, sem nenhuma palavra. Entramos no carro e fizemos o que melhor sabíamos fazer: fugir. Naquele momento, o silêncio era a melhor companhia e o cigarro parecia não apagar. Andamos quilômetros e mais quilômetros até que atravessamos a linha do bem e do mal. A gasolina acabou, mas ainda tínhamos bebida e cigarros, logo, a viagem não terminaria ali.
Ele me repousou sobre seu colo e me contou toda a sua vida. Um soldado, recém chegado da guerra contra si mesmo. Pediu-me então um corpo quente para aquecê-lo. Foi como se ela me tocasse, mais intenso, mais forte, mais quente. Eu queria aquilo pra mim, em cima dele, já não precisava fugir. Estava estável. Até hoje de manhã, quando acordou e o mesmo silêncio que d’antes me agradava me sufocava ali. Agora, sem gasolina, não posso procurar nem ela, nem ele. Só fiquei novamente, mas agora sei:

“Ruby deve ser nome de um demônio”.


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