O velho Blue Jeans



Ela gostava de seu blue jeans. E gostava de quando ele ficava velho, se desfazendo toda vez que era estendido no varal. Era sim, ela gostava do seu blue jeans. O jeans azul, desbotado, com ar de muito antigo, com cara nova, algumas janelinhas que deixavam ver a sua pele cor azul. Blue, blues, azul. Jeans azul. O símbolo do comunismo, muito bem inserido no capitalismo.

Ela trabalha a semana toda e tira folga nas terças, pra escutar som. E sempre com seu BJ. Ela trabalha, canta, toca e namora com ele. Nada sem ele. Tudo com ele. Ele.

E não importa as combinações. Azul aqui deixa de ser uma cor fria pra ser uma cor neutra. Assim ela usa vermelho, azul, amarelo, roxo, preto, branco, com bolinhas, listras, xadrez, estampas de bichos e flores. DIVERSIFICADAMENTE.

E o jeans, de aparência tão grossa, grosseira e pesada, nela desenha os seus contornos levemente, como se deixasse de ser Blue Jeans e fosse apenas Blue seda. Seda. Ceda e sede. É interessante como ela brinca com as palavras da mesma forma que ela combina suas roupas, sempre acompanhadas por ele.

O BJ parece ter sido feito nela. Fica gracioso, belo, vívido, nos seus cento e sessenta e cinco centímetros de luz. Combina com o batom que ela usa, com o sutian que cobre seus seios, com sua cintura roliça, com seus pés número 35, com seu cabelo muito bem desalinhado.

Com pincéis azuis e tintas vermelhas, ela pintava quartos de cor púrpura. Era nisso que ela trabalhava. Pintava quartos. Fazia portas nas paredes que só poderiam ser abertas pela mente.
Sempre com seus BJ.

A coisa mais linda era ver ela tirando-o. A graça dava espaço para a sensualidade. A garota dava lugar para uma mulher. O blue jeans dava lugar para camisa. E tudo era assim, até que ela vestisse-o novamente, na manhã seguinte. Diga-se de passagem que ela gostava muito dessa parte.

Era um relacionamento duradouro o deles. Como ela dizia: Meu BJ, minha música, meu canivete e ninguém mais.


11/02/2010

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