Devagar





Há muito tempo, posso até dizer que desde sempre, ela nunca se viu assim. E eu nunca a vi assim. Hoje, atrás daquele campo de flores azuis eu vi ela tirando sua armadura tão frágil. Hoje, atrás daqueles olhos que seguem o mesmo tom de seus cabelos, eu ví ela se segurando na insegurança de não ser a verdade.
Vieram gigantes de todos os lados e açoitaram minha pequena. Grandes gigantes, enormes gigantes. Lembranças de noites não terminadas. Noites que se perduraram por noites e dias. Vidas que entraram dentro de sua vida para trazer a morte. Um passado que ela não viveu batia na porta dela, e com uma chave no pescoço conseguiu muito bem abrir.
A pior dor, ela dizia, é aquela que você não sabe de onde vem, nem quando vem. O crédito da dúvida só feriu todo o corpo da minha cabelos de fogo.E por alguns segundos ela não se importou de ver seus vestidos antes brancos, molhados com o vermelho que deu lugar ao cinza. Ela por alguns longos segundos, ela não se importou com o que todos diziam: Fraca! Acha que tudo roda em volta de seus olhos!
Pobre garota sem casa, sem armadura, sem música, sem vida. Pobre ela que não queria mais ser quem era. Por outros grandes e longos minutos ela se sentou onde ela costumava se sentar todos dias, na chuva, no Sol, na neblina fria que aparece às 5:30 am. Lá estava ela. No topo do vale.
Foi nesse modo que eu vi ela se desmoronar em si. Toda beleza, todos os sorrisos, todos os ditados que ela inventou, todos os desenhos que ela me mostrou, as palavras que em várias noites ela escreveu, se desfizeram diante de seus pés. Pequenos pés pintados de branco e preto. Cansados pés, pintados de branco e preto.
Sem saber pra onde ir, segurando um Oceano nas mãos, que nessa altura do campeonato já escorria por entre os dedos. Ela se sentiu no meio da multidão de fantasmas que prenderam ela naquele dia.
Ela que tanto lutou por seus ideais, morreu pelo benefício da dúvida. Foi corroída noite e dia e noite por uma só dúvida. Cabelos de ébano quebraram aquele coração cor de seleta. Olhos grandes cegaram seus olhos de vinho. Lábios grandes calaram os lábios de vinho.
Não era quem eu queria que fosse. Não havia resistencia que eu pensei que houvesse. Não tinha mais nada alí, fora o corpo da menina que poderia ter me amado, com toda a sua alma.
E morta foi, por mais que um serial killer. Um jogador de palavras ao vento, conquistador caro. Que com palavras, plantou a semente da dúvida, que quanto mais secava a terra, mais deu frutos. Matou a Roza, que já não estava tão viva. Matou a Roza, que já não tinha cor.
Febre, tosse, asma. Onde está A.R.? Vozes chamavam ela por todos os lugares, e eu podia ver pés vermelhos correndo um asfalto laranjado. E no amarelo estava seu corpo na forma de uma suástica sem forma. E quando pensei que ele poderia vê-la, foi em outros braços que ele parou. Não tinha mais ninguém. Pena dela!
Nada por ela. Nada por ele. Dedos dormentes era tudo o que ela tinha. nada mais. 
Hoje, ela só quer se alcoolizar e dizer que tudo está bem. Hoje, ela só quer ser vermelha, e acabar com todos os contrastes. Nada mais importa. Nem velhos lugares, nem velhos hábitos fazem mais sua filosofia. Nada mais importa, é o que ela tanto dizia.
Ele nem se importava. Um sexo após à noite não importava. Nada mais. Tudo duplamente feito. Tudo grande. Era assim que ela via. Nada mais era igual à antes. Eu só queria voltar ao que era. E só não estar tão chapada pelo vício que eu tinha. BEM, eu estou escrevendo durante meu falso devaneio, esperando justificar algo que ainda não disse
Algo que faça sentido, algo que falte na parede, algo que me dê o horizonte. Se não for para ser, que não seja e tudo aconteça como for pra acontecer. Não quero ela para mim, mas a quero bem, sempre bem e fora do pote dele. Aquele pote pintado hálito de bebâdo, marron e fosco, com transparência confusa e alheia. Ele com olhos incrivelmente sedendos, olhos de tão marrons eram quase negros, negros que agora eram a luz do meu tunél. Da certeza das reticências me senti mastigada, docemente masgitada. Nesta lástima de viver, estava ele a cada dia vivendo sua pequena rotina, nada de sobreviver rastejando e comendo as migalhas que um sonhador ofereceu. Da neblina que embaça a janela dela por fora, eu pude escrever a verdade . . .

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