Ela Partiu


Um dia, eu cheguei no mesmo lugar onde eu a via todos os dias, e só encontrei o lugar cheio de vazios. Nenhuma porta trancada, nenhuma janela fechada. Eu sabia: Ela partiu.
Eu sentei no banco de madeira, com pregos enferrujados e comecei a lembrar do dia que ela chegou. Com seus shorts jeans, seu tênis imundo e camisa do PF, depois com seu vestido marrom, com suas calças largas, seu cabelo bagunçado, seu óculos mal desenhado, seu lábios vermelhos, seus labirintos pintados assim também. Quando ela entrou em casa, em minha casa e na casa deles, parecia que as paredes tremiam. Nunca vi algo de cento e cinquenta e dois centímetros estremecer uma obra tão grande. As paredes verdes pintadas nunca mais foram as mesmas depois dela.
Eu vi ela chegar, mas não sei a quanto tempo ela partiu. Só sei que ela se foi, e me deixou num quarto cheio de vazios. As minhas paredes se calaram, pra ouvir meus lamúrios. O chão se fez mole, pra que eu repousasse meus cabelos. Meu violão está afinado, minha voz está rouca, e meu pequeno vermelho rouxinol partiu. Cansou dos meus olhos. Cansou da minha voz, ou nem se cansou.
Agora, eu tento arrumar palavras, nomes, vozes, pra encher o vazio que ela deixou. E eu sei queela partiu. Só disso que sei. Porque não é está como quando você sabe que seus pais vão voltar de uma viagem. É como se tudo fosse apenas um sonho e nada mais.
Agora até minhas veias chamam seu nome, que ecoa no meio dos vazios. E eu ví que nem no alvo eu estava. Eu estava nela. E agora que ela já não está, onde eu estou?
Quando ela chegava, causava. Não pela sua beleza, mas porque quando abria a boca, saía um leão maior que ela. E a voz... que voz! Ela cantava quase como um sussurro, mas pra me chamar pra perto, pra ouvir melhor, e me beijar com boca de café e fumaça. E me olhava com seus olhos cor-sem-nome e quando eu olhava pra ela, ela se esquivava. E eu não entendia se era um convite pra olhar mais perto, ou uma fuga do que era incerto.
As vezes, me sentia em suas mãos. Totalmente dominado por pequenas mãos de dedos finos, e palma gorda. Suas unhas desenhavam grandes arcos nas minhas costas. Eu tinha sorte. Muito azar. Um azar dentro de um biscoito da sorte. Um centro dentro de um alvo.
E agora, se foi. Levou meus vícios. Levou meu ar. Ela partiu, ela sumiu, ela se foi. Me deixou num quarto vazio, com frases, sem frases, com paredes vermelhas como seu cabelo. Ela partiu.

2 comentários:

  1. Ela partiu... mas poxa a vida é cheia de novas e maravilhosas oportunidades...(que merda de comentário motivacional...=/)



    Beeejo ;]

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  2. HAHAHA. Anda lendo livros de auto-ajuda? HHAHAHA

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