nothing else matters

Tantos anos depois, lá está ela com palavras nos dedos, tomando café e fumando cigarros, escrevendo sobre amores que tragicamente se iniciaram. Cassia dizia que nos queria bem e neste momento, é o que importa. Ela pressiona os lábios, um no outro, para manter o tom de vinho que carrega na boa. A música que passa em sua mente pede 80km por hora e isso, na verdade, é o que importa.

Não se pode ver, como antes, como está seu coração. Seus olhos castanhos cor-de-vinho eram grandes e expressava tudo o que a boca não falava. Eu perguntava para ela onde estava o seu sorriso, como quem pergunta onde perdeu as chaves sentindo o tilintar do metal nos bolsos, como quem está com a caneta presa atrás da orelha e pergunta com o que vai desenhar.

Eu lembro que ela andava contando passos por aí, com um leve cambaleado no andar. Eu lembro que ela falava aos sete ventos sobre si para os que não conhecia e se calava diante de mim, que a via por completo. Eu lembro dela ligando para minha casa dizendo que estava conversando comigo dentro do guarda-roupa, tamanho embaraço em ouvir minha voz.

O sentimento que guardamos um para o outro é a saudade, o que para nós significa o amor mais puro que poderia existir. A saudade do que vivemos e, especialmente, a falta do que jamais encontramos.

Mas hoje ela está ali, há uns 20 metros dos meus olhos, do outro lado da rua. Ela tem um novo corte de cabelo que alargou os seus cachos deixando-os entre o ombro e o pescoço. Velhos jeans azuis que colam em suas pernas finas e o all star que fez história entre nós. Uma camisa de veludo escuro e sobrancelhas apertadas, para dar um ar de seriedade. Mas isso não importa.

Eu me questiono se nós marcassemos de nos ver, por aí, em qualquer lugar, para tomar a bebida favorita dela e falarmos de nós, jamais nos encontrariamos. Assim quer a vida, que nos coloca frente a frente em especiais ocasiões, em que o encontro é marcado pelo o que nos completa e nos une até hoje: a música. Isso é o que interessa.

Ferimos a pele de nossos corpos com coisas sobre nós, coisas sobre os dias em que crescemos junto e, principalmente, pelos dias que nem nos olhavámos entre grades e corredores. Isso é o que importa.

Ela coloca os cabelos atrás da orelha para tirar o incomodo do cachos no rosto e sorri com o canto da boca quando me olha. Isso é o que importa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário