o que a gente podia ser

busco dentro de mim até mesmo fé para poder encontrar a hora certa do dia para respirar
ando tentando encontrar não só no tempo, mas no espaço, o que deixou o canto da parede vazio
encho o cinzeiro todos os dias e já começo a recitar o manual nada prático do desapego
procuro em mim o peso morto que não me deixa mais pensar e agir como antes
ele me diz que eu sei o que aconteceu, mas ainda duvido dessa verdade
questiono dentro de minha cabeça o que defez meu coração em dois e como isso se deu
ora eu era forte e inabalável
outrora eu era apenas leve e jovem
há pouco eu era apenas velha e cinza
pergunto se foi eu ou o tempo que passou por baixo da fumaça densa do meu cigarro
não entendo como perdeu-se em gavetas vazias o meu corpo, minha alma e meu espírito
nas mãos que eram as únicas a tomar meu ser eu me despi e me machuquei
eu cai nos espaços vazios dos dedos que amavam ostentar anéis de prata
fui derrubada pela língua que esqueceu-se de mim quando a neguei
bombardeada fui para os olhos de brasa quente quando esses mesmos viraram cinzas
seria uma vida toda de céu, mar, casa
eu estava acostumada para isso
acreditava que nenhuma fatalidade enfraqueceria dez dedos entrelaçados na cama
o que vejo em mim é uma grande ferida e a certeza de que só dói porque foi amor.

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