The Pretender



Eu finjo ter todos os problemas do mundo. Finjo carregar os problemas do mundo. Finjo que os sinto dentro de mim e finjo que a qualquer momento eles quebrarão a minha janela e destruirão meu castelo. Mas basta você passar por mim com risos e histórias loucas com aroma de mil figueiras para a leveza me invadir com a mesma ousadia que o vento toca as folhas das mais lindas árvores.

Eu finjo ter as palavras que os outros querem ouvir. Finjo ser ponte, ser fonte, ser forte. Finjo ser o leão que não se intimida, finjo ser o escudo pronto pra batalha. Então tuas mãos envolvem meu corpo e me encaixo em teus braços tão bem, como se já os visitasse há muito. E teu peito me serve como abrigo, como esconderijo, como um campo sem fim onde posso correr sem cansar, onde a paz me invade com a força que o vento dobra o mar ao seu prazer.

E finjo máscaras e saberes. Finjo experiências e finjo lembranças. Finjo ter pra onde voltar. Finjo ter palavras pra falar. Finjo ser Paulo e finjo enfrentar deuses de lata. Finjo ter o mundo nas mãos como se sempre fosse meu. Aí teus olhos provam pra mim que nada faria sentido se eu não tivesse onde repousar uma mente tão fantasiosa. Teus olhos que me iluminam o caminho e  não deixam que eu pise em falso. Quando todo o corredor de portas se fecha e já não tenho pra onde ir, vem teu amor me abraçar com a doçura que o vento limpa a grama de folhas secas.

E por fim, quando tudo acontece ao mesmo tempo, quando os gigantes aparecem e as portas estão fechadas, quando não há máscaras suficientes para me esconder, quando as palavras e frases feitas já me cansaram, quando eu não tenho pra onde voltar... Basta-me teu beijo, teu cheiro... Basta isso pra que a coragem toque uma música tão linda, tão insana, tão calma, tão macia, tão cor-de-dia, como o vento que balança seus cabelos no carro.

Aí eu já não finjo. Só acredito.