Ode a Leonor

Basta que eu olhe para esta casa para que me bata a incerteza de ser bem vinda. A casa ainda tem o perfume e sorriso dela, você ainda olha os umbrais da porta com aquele tom de foto nostálgica, ora lomo, ora polaroid. E eu sorrio meio-sorriso. Eu olho teu peito e só enxergo o meu único abrigo, minha única saída, quando o mundo me tranca, quando os gigantes invadem meu lar, quando todos se vão. Mas logo, sem demora, me sinto intrusa no seu jardim. Uma rosa no seu cerrado. Uma ponta de cigarro na capa do livro. São loucuras demais, são problemas demais, são lembranças.
Basta que eu olhe para essa casa, para que tenha certeza que isso não me pertence, nem livremente. É como sonhar sonhos de outros, ou parafrasear filósofos, músicos... Parafrasear. Achei palavras que pareciam tão minhas por um minuto, enquanto ouvia o solo mais lindo. Depois, na segunda volta, vi suas palavras como faca de dois gumes.
Agora, olhe pra mim... Só um pouco, só pra mim. Vamos ficar alguns minutos sem falar... O silêncio é o eco que preciso agora, agora que estou indo embora. Não quero ultimo beijo. Quero teu último olhar, quero o primeiro olhar que você me olha, sem querer outra vida, sem querer outra canção, sem querer outro copo. Seja meu, só meu, enquanto eu me desfaço de você. Pra que eu sinta que não foi em vão, que foi mera coincidencia, que foi um acaso.