Deixe

  
Leve daqui, Cigano, seus olhares debochados. Leve sua indecisão e seus pés livres. Leve seu desamor e sua frieza. Leve os elogios para outros e seus espinhos para mim. Leve aqui seus beijos alucinados e suas letras corridas. Leve aqui a tinta que corria em teu corpo e teus olhos também. Leve teu sorriso, você nunca o usou e agora que não vai usar. Leve seus segredos então, leve seu violão. Leve o quadro em pedaços, leve as jóias da coroa, leve seus passos, leve o que for seu. Mas, não esqueça, por favor, de deixar sua despretensão e seu descaso. Quando sair, apague a luz.
  Leve daqui, Palhaço, seus falsos elogios. Leve sua arma de controle e seus sorrisos manipuladores. Leve seus olhares mentirosos e seu ardor fingido. Leve sua dúvida, leve sua trupe e seu circo para outro lugar. Leve sua boca manchada e seus olhos pintados para frente do espelho, mas não se ponha diante de mim.  Leve suas mentiras e suas promessas amarradas para que não me lembre delas. Mas, não esqueça, por favor, de deixar tua coragem e tua intrepidez. Quando sair, não me toque.
  Leve daqui, Padre, todo seu medo. Leve suas crenças e sua negatividade para longe de mim. Leve sua cabeça-dura e sua teimosia numa fé absurda e sem cabeça. Leve seu medo de confessar, sua vontade de se calar. Leve já daqui essa sua sensatez e teu equilibrio. Mas, não esqueça, por favor, de deixar tua poesia e perspicácia. Quando sair, não me beije.

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