deusa

 
Cintura fina e quadris largos. A sua boca é perfeita pra mim: lábios superiores levemente mais salientes que os inferiores, avermelhados. Os olhos amendoados de noites e noites ébrias são delineados fortemente pela cor que parece ter sido feita para ela, o preto.
 Ela é daquelas moças que acordam tarde por que passam a noite toda entre rocks e drops. É aquela que fala com a mesma propriedade de sexo e carros, de casa e de comida, de rock e de samba. Vermelho é o batom e este acompanha o tom de cabelo. As mãos rápidas me guiam para a boca do abismo antes que eu possa entender que estou andando. Ela me provoca saudade da minha adolescência.
 Sabe-se que sempre, mesmo em tempos de boemia e pilantragem, eu sou uma pessoa centrada, calculista. Não por uma força interna, por um querer sem razão, mas sou assim por que os céus de meu nascimento disse que seria e o mundo fez peças e ensaios pra que isso permaneça assim. Entretanto, em sua presença, o chão se dilui em lama e no lamaçal ela me faz querer dançar. Desnorteia a minha mente, brinca com minha alma, seca minha boca quando me olha com seus olhos e a enche d'água quando bebe cerveja.
 Ela me dá medo pela falta de medo dela. Parece tão inabalável, revida pedras maiores que ela mesma, dança na presença de seus inimigos. Enquanto os cães latem na sua face ela sorrir sarcasticamente. Ela me assusta. Me faz tremer dos pés às sobrancelhas. É do tipo daquelas doidas quentes que vemos em filmes e nos apaixonamos pelos poucos segundos de cena. Ela come meu interior. Faz do meu juízo um tapete onde ela deita, ama, bebe sua cachaça. Usa minha boca como cinzeiro e de curiosidade faz meus olhos virarem.
 Quando rabisca guardanapos usa como tinta saliva e lágrimas. Tira a máscara e limpa o rosto. A tristeza combina tanto com sua idade. Quando fuma usando as pontas dos dedos e dos lábios, lembra-me pinturas que fazia no quarto quando mais novo. O cigarro combina tanto com sua tristeza. Quando me olha, me estremesse alma e as pernas. Eu perco as quadras, as entradas, as saídas. Suspeito que ela tenha saído dos livros do Carrol, ou Bazzo, ou do Miller. Pode ela realmente existir?

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