Seca



Acabou meu tesão.
Acabou. Está seco.
Seco.
Agora que chove, tudo está seco.
O tédio toca pra mim.
A preguiça se rasteja em meus pés.
O telefone toca por horas e eu apodreço no sofá.
O cansaço encurta meu fim de semana.
O cansaço me broxa na cama.
Gira o mundo e eu parada, esperando segunda-feira chegar.
Trabalhando para enriquecer uns.
Trabalhando para empobrecer outros.
Moro numa periferia.
Que não fica à 20 minutos das mansões da cidade.
Ainda assim é periferia.
Ainda assim sou pobre.
Posso até escutar daqui a risada do gerente do banco.
Posso ouvir ele rir da desgraça que está a minha conta.
Posso ver nos olhos deles o desejo do dinheiro.
Daqui da periferia, onde a arte nasce e morre todo dia
sinto forte o cheiro do desespero rodeando minha casa.
Trabalhar, estudar, trabalhar, estudar.
Vida de cão.
Vida de gado.
Esperar 4 anos pra ser alguém de importância relevante.
Escolher alguém de importância irrelevante para não se importar.
Vida de cão.
Vida de gado.
Sujeito à votar. Sujeito à sujeitar-se.
Sujeito que trabalha para ganhar um mínimo insuficiente.
Cansei dessa rotina.
Secou meu talento.
Minhas palavras estão cinzas.

Com'on baby, let me stand next your fire!

Um comentário: