Doorframe



Eu cheguei na casa dela e tudo estava meio estranho. O portão estava aberto e a porta também. Eu subi.
Todas as coisas estavam encaixotadas. Papéis em pastas-portifólio. Tapetes enrolados e amarrados com um elástico. Camisetas em rolinhos dentro de caixas grandes. Calças em caixas perfeitamente ajustadas ao tamanho delas, todas alinhadas. Cós para um lado, cós para o outro. Suas maquiagens em pequenas caixinhas. A TV e o Som ensacados. A cama já não estava lá. O sofá também não. Nada, para ser sincero estava, além de caixas de roupas e coisas que ela tinha.
O Sol se encarregava de iluminar a sala e ali mesmo eu sentei. Por alguns segundos fiquei pensando o por quê de se mudar daquele lugar. Se tudo vai permanecer igual, e aquele lugar era o nosso lugar. Então, ela entrou na sala com shorts jeans claros, descalça, sem maquiagem, com uma blusa de algodão branca de alças finas, sem sutian, como ela costumava ficar quando estávamos juntos.
Ela me olhou por algum tempo, com uma voz meio estranha ela me cumprimentou e sorriu. Colocou uma blusa em cima de uma das caixas que lá estavam e sorriu pra mim novamente. Sentamos no batente da porta ficamos nos olhando por alguns minutos. Eu acendi um cigarro e dei um pra ela. O silêncio era o que mais falava. Era engraçado olhar para ela daquele jeito. Sua pele estava amarela pela luz. Eu não queria perguntar nada, ela parecia também não querer. Queríamos apenas fumar aquele cigarro todo, esperar os tic-tacs ser cantados até o fim.
A luz deixa seus olhos avermelhados, assim como o seu cabelo. Ela está mais magra. Tem um cheiro que eu reconheceria à quilômetros. Ela não me olha diretamente e brinca com a fumaça. Eu fico ali pensando que isso tem que acabar uma hora, mas seria tão bonito se continuasse por mais algum tempo.
Eu olhei ao meu redor e vi que uma das caixas tinha meu nome. Eu fiquei olhando e ela percebeu isso. Eu então me levantei e deixei com ela apenas a carteira de cigarro e o isqueiro. Fui no banheiro fazer o que costumava fazer e peguei nas mãos a caixa. Pensei achar lá dentro algumas das minhas roupas, algumas das minhas coisas que tinha deixado lá. Abri a caixa e tudo o que tinha uma pilha de cartas.

-Por que você não veio antes?

Nenhum comentário:

Postar um comentário