Child in time II



De longe você ver o tempo correndo com os vestidos nas mãos, como um amante que foi pego em flagrante depois da traição. De longe você pode perceber que dentro de um morango que ainda está verde por fora, por dentro já está maduro. De longe você entende então que se passou tanto tempo em uma noite só.
Aí você começa a ver que no rosto dela escorre um grande desespero de ter estado mórbida durante tanto tempo. Ela só deu 18 passos e já está tão cansada. Ela olha para seus semelhantes e em cada manhã eles estão revigorados e vivos, enquanto ela acorda contando os dias que lhe restam.
Ela ainda tem relógios, mas ela já sabe que a hora certa não chega. Os ponteiros hoje ecooam muito mais alto. Ela se ver no espelho enxergando um passado vivo e um futuro incerto. Hoje ela entende o rouxinol que partiu há 40 anos.

Tic... Tac... Firme... Suave... Firme... Tac... Tic... Suave...

Ecoa. O tempo ecoa mas não se repete. Ecoa mas não se prolonga. Só passa. Corre com os vestidos nas mãos. Diante dos olhos dela. Mas ainda há quem diga: "O tempo é seu aliado. Use-o." Mas o seu coração bate tão acelerado quanto as batidas dos ponteiros. Já são 5 horas! Já são 5 horas! Em breve serão 6 e quem se preocupará em cuidar para que os olhos de vinho não se perca?

Ela tem sua casa, mas ainda está só.
Ela tem uma família, mas ainda está só.
Sempre tem música no lugar, mas ela ainda está só.
Tem um cigarro nas pontas dos dedos, mas ela ainda está só.

Hush Baby.

Child in time I

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