Ah.

Ela olhava ao redor, procurando algo que parecia já ter encontrado. Na parede os feixes de luz faziam um novo quadro e existiam palavras escritas ao contrário. Tudo que deveria estar no seu lugar, estava errado. Ela ainda tinha sua máquina, seu portal para outra dimensão. Tinha música e tinha vida. Alguma coisa faltava. Alguma coisa estava fora do lugar. Ainda não se sabe se eram os tênis que não tinha sido lavados, ou um caderno que ficou para trás com toda sua alma. Ela precisava de algo novo, algo que nem o céu tinha experimentado ou o inferno tivesse agarrado em seu calor.

Seus olhos vermelhos, assim como os de outra garota, me faziam trair meu próprio desejo. Ela fazia graça, dançava e tocava pra chamar minha atenção. Hora tão menina, hora tão mulher. Acho que isso que me chamou atenção. Seus olhos em forma de fogo e calor. Seu ser envolvido em música e suor. Conhecimentos que não cabiam na palma da mão, palavras que pareciam descer de sua boca.

Transformando poesia em vida, em sexo. Me olhava e quando pude perceber suas mãos já me dominavam calorosamente, sem nenhuma escala a seguir. Parecia que de minha cintura saíam sons de um violão com cordas enferrujadas, numa mistura de blues e rock 'n' roll. Corria meus cabelos, meu rosto e minha nuca, não esquecendo-se de matar minha sede à saliva. Com olhos de quem não alimentava a alma, ela surrurrava no meu ouvido convites deixando seus cabelos roçando em meu rosto.

Ah, naquela noite aquela pequena menina, fez coisas que mulheres fazer. Boca e língua, mãos pernas. Na barriga escorria um pequeno rio de suor e tesão. Eu podia ouvir a guitarra de Jimmy Page rugir em meios gemidos e sussurros. Nada vulgar. Tudo sensualmente quente. Jim pedia incessantemente, "Light my Fire!" e a voz de Janis acompanhavam a voz dela. Quente, quente, quente.Um ode ao seu corpo. 15-14-15-16-15-14-15-15-16-15-17-15-14-14-17-16-17... A vida ali ganhava nova forma. Seu sorriso se abriu no meio de um silêncio e a mentira brinca de roda com a verdade. O bem e o mal encarnados em corpos que se entrelaçam, se invadem.

Naquela noite, ela encontrou! Ela viu que tinha tudo nas mãos. Ela tinha 17 anos guardados em seu bolso, tinha um casulo de borboletas, tinha um violão. Tinha sorriso no rosto corado, seus lábios sempre estavam vermelhos e seus cabelos aleatóriamente armado. Seu corpo estava sempre quente guardado dentro de conchas. Novamente, seu coração parara de bater. Ela se sentia tão bem por isso...

Então ela começa a dançar correndo para o mar. Debruça-se sobre a grama que nasce sob seus pés. Ela vendeu seu mundo por alguns trocados. Dançava e o vento a abraçava, a beijava, a jurava um amor eterno, fazia seus pés tocarem nuvens fofas e rosadas. Sua boca não parara de sorrir, até que se nota no fundo da cama que falta algo. Algo que ela tinha encontrado a pouco. Algo que agora já dobra a esquina de sua casa. Embora foi e com ele levou seu violão, levou seu sorriso, deixando-a com um ponto de interrogação gigantesco e sua mão fechada.

Sem nenhum adeus. Foi-se. Enquanto ela tomava seus drops azuis. Enquanto ela pintava sua boca. Foi-se. E parece nunca mais voltar. Algo que veio de lá, chegou frio, inerte, seco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário