O espaço






Hoje eu a vi na rua. Como há muito tempo tem sido, ela se veste de vermelho para não mostrar o cinza que tem tomado espaço.


Hoje ela me disse que está saindo do lugar que ela estava. Hoje ela falou sobre seus planos comigo. Levou-me para seus lugares favoritos, e com uma voz em fade, ela me contou seus segredos ao pé do ouvido. Ela há muito não se revelava assim.

Ela começou cantando aquela música que falava sobre castelos de areia. Disse-me que essa música a acalmava nos seus momentos mais frios. Eu então aprendi a tocar essa música para ela. Ela me disse que a música que falava de estações, tirava da cabeça dela todas as outras músicas. Então, eu aprendi a tocar essa música para ela. Ela disse que a música que falava sobre os campos de algodão, fazia ela se sentir alguém mais forte, mais viva, mais colorida. Então, prometi a ela que tocaria essa música.

O que me deixou impactado foi quando ela me falou sobre o silêncio que ela queria ouvir: Hoje não havia mais desenhos na parede, nenhum blues a faria dançar na roda, nenhum violão prenderia sua atenção, hoje nem o sexo e nem o álcool limparia a cabeça, hoje não tem brincadeira.


Aí então foi que me perguntei e comecei a sentir falta daquela risada pneumática. Seus olhos que se esquivavam dos meus, como um convite. Sua boca quente, quente, quente, quente, quente... Seu corpo ardendo em cima do meu, seus cabelos vermelhos que iam ao alto do quarto. Da forma que ela falava sobre seu futuro tão pequeno, da forma que falava sobre seu passado tão grande. Como ela queria viver e como ela me via.


Eu senti tanta falta disso, quando dei por mim, ela atravessa a rua mais movimentada daquele campo e seu corpo se perdeu dentre carros e motos amarelos. E como antes contratado, ventos me açoitaram pela sua falta. Como ela disse. Hoje sinto a falta dela, que eu nunca senti.
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