Go


Depois de uma grande névoa, ela se sentou e calou-se. E mesmo que o violão e os carros rangessem, parecia pra mim um grande silêncio, causado por um soco no vento.
Segurando a água contida de várias e várias tempestades que assolavam o barquinho azul, ela continuou a segurar-se no silêncio.
E aos poucos, a névoa se desfez e pude ver que aqueles olhos cor de vinho já não eram os mesmos, pois toda água escrevera alí uma frase ainda não terminada. Jamais terminada. Ainda.
E por trás daquela boneca de lata (como a lata do seu melhor carro) com lábios bem desenhados e vermelhos era nada mais do que carne e osso. Música e fotos. Sonhos e idéias. Mas naquele momento era como "Ball and Chain".
Pesada, cansada. Um vida vivida por uma criança tentando sobreviver num mundo desabitado. E como uma rosa que perdeu seu caule, ela murchava. Todos seguiam seus olhos, pra tentar novamente ler o que estava lá. Ela, não via nada. E com uma cabeça que já não fantasiava mais as borboletas, nem zebras, nem vagalumes, nem contos de fada, ela segurava ainda o Oceano que havia em seu corpo.
Eu olhei pra minha pequena. Minha boneca, minha pequena vermelha, e como eu queria ter o poder de tirá-la de toda aquela cena. Fechar o teatro e dizer: "Vamos embora".
Naquela tarde, não havia nuvens no céus suficientes para ofuscar a luz daquela armadura mal forjada. Naquela noite a Lua se escondeu. Naquela noite, morta com uma só bala, de um certo baleiro, um serial killer desfarçado, matou minha pequena vermelha.
E manchou os lençóis todos de vermelho, e todas as paredes desciam como uma meia-calça em perna de moça, no tom de seus olhos.
Nada mais eu poderia fazer. Porque ela entrou no descanso que ela tanto pediu. E aí começou minha agitação, como em Summertime. Eu pude ler nos rodapés das paredes, enquanto em meus braços eu via uma vermelha ficar cinza e sumir no meio da mesma névoa que me fez achar.
NONONONONONONONONONONONONONONONODONTYOUCRY!
Uma pequena guerreira, que entrou numa guerra sem querer. E saiu daqui com água nos olhos, uma fita no cabelo cinza e me deixou com uma seda escarlate. Ela saiu com marcas em todo o corpo de um guerra que ela não queria ter lutado. Uma criança, ela só é uma criança. Ela saiu da guerra no mesmo silêncio que entrou. E ainda hoje, há sussuros de sua voz gravemente aguda por todo ambiente. 

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