peixes




Parece até pecado querer ficar embaixo de teus cabelos pretos.
Parece pecado lembrar de teus cachinhos encaracolando meus dedos.
Lembrar dos teus olhos cor-de-vinho parece ser errado aos olhos sóbrios que não podem de ver como eu.
Pensar em tuas sobrancelhas desenhadas parece sujo.

Mas que posso fazer se teu corpo me torna criança?
Que faço eu se teu sorriso me embriaga a alma?
Como posso não querer ouvir tua voz grave me falando blues ao pé do ouvido?

Eu guardei tantas primeiras vezes para você.
Minha primeira saudade, meu primeiro acorde em prosa, em verso, em mim.
Tinhamos nossas trocas de carta, troca de forças, trocas de pernas, trocas de ideias e soma de alma.

Hoje, parece pecado querer-te perto, sem pertencimento, sem possuir-te.
Parece pecado tocar tua cintura quando encontro você pra dizer 'oi'.

Parece errado ver postes amarelos, estrelas brancas, grama verde sem tua presença.
Parece errado ver pernas que não são tuas em minhas pernas.
Mãos que me arborizam e que não são tuas.
Boca que me beija e me bendiz que não é tua.

Fico eu então na dor da saudade e na alegria da enganação,
querendo teus olhos, querendo teu perdão.
Querendo cheiro, beijo, pele e mãos.
Fico fazendo minhas prosas e poesias,
encarnando outras pessoas para esquecer-te,
um dia.