Carta ao medo


Pegue suas coisas, arrume suas malas. Hoje é o dia de dar adeus. Guarde na sua bolsa nossos velhos retratos, nossas velhas lembranças. Já não cabe mais um "nós", e fique bem com isso. Vamos, apresse-se em arrumar suas caixas!
Depois das palavras de hoje, eu quero que me solte de seus braços. Vá embora. Não preciso mais que me acorde no meio da noite, ou que me faça companhia como se fosse uma sombra minha. Leve teus livros, cartas, vinis, roupas de meu quarto. Já não há lugar pra você.
Vá em silêncio, por favor, sem escândalo, sem estardalhaço, sem versos ou prosas, sabe que não gosto. Em respeito ao longo tempo que ficamos juntos, por favor, vá em silêncio.
Não que eu me arrependa, ou que sinta muito, mas tente ser você em outro lugar. Meu peito já não é sua casa, não mais, não depois de muito tempo. Solte meus joelhos, não há volta para nós dois, não há um "capítulo dois". Leve sua inútil presença de minha vida.
Hoje eu já não preciso mais de você. Hoje eu já não quero te sentir. Hoje é dia de dar adeus à você, que tanto mal me fez e que hoje já não pode mais.
Adeus, medo. Adeus.