Elle, R.


Nosso amor sempre foi um blues, daqueles que se cantam sentados batendo as solas dos pés no chão e de olhos fechados. Quantas poesias criamos nós durante nossa infância, quantas dores nós acumulamos em nossa adolescência e quanto medo sustentamos na nossa velhice? Éramos nós tão livres, tão leves, tão grandes e tão fortes, mas todos os nossos tesouros escorreram entre os dedos de nossas mãos no momento em que elas já não se entrelaçavam.

E o asfalto nunca foi tão limpo e nem a chuva lembra o nosso nome. As estrelas já não brilham, meu amor, não mais. Fizemos tanta força para que nosso pequeno e inocente querer se desfizesse sempre que a vida nos provava por a+b que nossos caminhos não deveriam brincar juntos.

Mas quando abraço você, assim quando ninguém pode me ver ou ouvir, nos poucos segundos eu tenho a sensação que voltei para o meu lar, para continuar aquela conversa que nunca terminamos. É estranho, que temos a maldição de morrer quando nos aproximamos.

Um dia a mais e meus olhos choram hidrantes de tristeza. Um ano a menos, e meu corpo se esmorece e estremece quando penso no éramos, no que fomos. E finjo que não percebo que as pessoas falam de você e finjo não sentir saudade quando faço piadas das suas antigas confusões.

Eu só queria te contar tantas coisas, tantos mundos de palavras que existem em mim. Eu só queria te contar, qualquer bobagem que dê o tempo certo para que você diga que não tem explicação.

Mas nosso amor sempre foi um blues, meu amor. E como ela dizia em voz de choro, quando uma mulher encontra o blues, ela pega o trem e vai embora, quando um homem conhece o blues, ele cai sentado e chora.

Me dá um medo.
Que medo.

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