Outono

 
 E agora que meu ventre está gerando o que vai poder me matar, baby, eu só quero ir embora. Vou ligar para meus amigos e dizer que está tudo bem, é temporário. Amenizar antes que algo pior aconteça e não tenha como falar. Vou perguntar sobre o projeto de vida que eles têm e sorrir com eles. Vou rir e gargalhar do sarcasmo, mas baby, quando isso acabar, me leve daqui.
 O Sol está se sentando todo formoso e gordo para assistir. Meu pai está rico, ela está cada dia mais bonita (ao mesmo pé que está ranzinza), Anna crescerá muito segura desse mundo. Baby, está ficando tarde e eu tenho que ir.
 Sabe do que mais vou lembrar? Do sofá laranja. Eu já sorrio esperançosa toda vez que lembro dele. Noites nele, algumas noites difíceis de se passar, algumas noites facilmente assobiáveis. Terei mais saudades dele.
 Meu amor, é inútil fingir que eles nunca virão me buscar. Eles já estão aqui começando a levantar poeira perto de mim. Eu vi. Não sonhei ou devaneei. Eu vi. Vi vinte e sete cavalos se alinhando no monte. Eles desenhavam um novo Sol com suas silhuetas fortes, mas agora descem à galope para me encontrar. Baby, por que o tempo não me ama? Eu sempre guardei relógios para que de alguma forma eu pudesse guardar um pouco de tempo, mas ele sempre me teve cativa. Parece que sempre vou chegar atrasada.
 Acho que nesse rio de largas margens não vou entrar. Vou me apressar para o Oceano para apreciar os que me têm com apreço. HaHa! Viu como as palavras se encaixam? É tão engraçado. Eu vou dançar talvez mais uma música e olhar os barquinhos deslizarem no espelho azul.
 Baby, eu estou pronta. Pegue minha mão e me leve para o mar. Não esqueça meus óculos. Morrer é simplesmente lindo.

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