Nada em você

Acho engraçado ver você se enganando. Acho engraçado ver você fingindo ser o que não é. É curioso observar você e te ver tão só no meio de tantas pessoas, pelas quais você finge um falso-afeto. Gosto de rir quando me falam sobre sua incapacidade de ser você, essa foi a forma menos dramática que consegui pra ver teus castelos sendo arruinados por você. Lembro de bons dias que passávamos juntos. Éramos nós cartas de um só baralho. Mais que a família real, éramos o Espadilha e o Zap. Gostava de ver você sorrindo como quem nunca sorriu antes.
Acho engraçado que agora teu sorriso se resume em uma só fonte, e essa não parte de você. Gostava muito de sentir saudade sua e principalmente, destruir essa saudade, quando saíamos para nos divertir embaixo de luzes amarelas, sem dinheiro ou destino. Apenas nos divertíamos como que éramos.
Tua boca está seca. Secou tuas palavras e tuas idéias, desde o dia em que você se propôs a deixar que pensassem por você. Pouco a pouco, se perdendo no emaranhado que você criou. Qual sua cor hoje? Qual seu sabor? Você consegue me responder alguma coisa que saia somente da sua cabeça?
Não há tempo que mude. Não há atitude que reverta. Não tem pé e não tem cabeça! Não tem ninguém que mereça. Tua incredulidade em pequenas coisas. Tua cegueira ideológica. Teu não-saber sobre você mesmo não me excita a te ver. Não me propõe nada novo. Não me chama e nem me atrai.
Poderia até mistificar que foi um roubo, um seqüestro. Mas sei que seria mentira. Você viu a porta aberta e saiu, sem me mandar cartas. E eu jamais fecharia a porta para você, como têm feito agora né. As portas estavam sempre abertas para entradas e saídas de pessoas, contudo, estaríamos sempre do lado de dentro.
Hoje então, quero que saiba, que estou me desaliando a você. Apague nossos desenhos da parede, se eles ainda estiverem lá. Esqueça a minha voz e se possível, afogue-se no que você criou para você. Não há mais nada em você, nada novo. Nada seu. Nada que tenha nascido de você. Não há água em você, nem luz, nem fogo, nem vento, nem sabor, nem música, nem sentimento, que sejam oriundos de seu íntimo. Dobre a esquina e siga o que tem te guiado, Cabeça Tele-Guiada. Drogue-se na busca de descobrir o que te afasta de ti. Durma na esperança de saber o que você realmente é. E quando você acordar e ver que o Sol deitou e se levantou mais do que você se lembra, não me procure. O que era nosso você matou.
Pegue o vento e o tranque em um copo. O que você tem?

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